domingo, 10 de maio de 2015

Como me matei?

Posted by Carolina Desirée On 16:39
Suicídio da alma, já ouviram falar? Não sei como é o outro lado. Queria morrer sem dor, dormindo é o ideal.

A alma deixa o corpo, é o que dizem. Mas e se continuássemos vagando quando ela fizesse a transição? Não como mortos vivos, mas com um vazio no estômago não denominado fome.

O que é poder? É fácil perder o controle quando não estamos preparados para administrá-lo. Administrar o poder. Perder o controle de uma situação e de si.

Quinze anos, um jovem com intenso poder controlou o mundo. O seu mundo. O que é o mundo para um garoto na adolescência?

Observei a calmaria das águas, imitavam a sensação em meu peito.  Com os ombros pesados e os braços largados, refrescava-me até a altura dos joelhos. O rio São Francisco morria e eu não me sentia presente. Fugi de uma situação e não percebi. Com a fuga... Férias em Januária, Minas Gerais.

Playboy da escola, aquele que todos querem ser. Temem. O rapaz que não parece amar nem a mãe, que chama a atenção das meninas. Paulo, prazer.

Constrangimento? Eu fui preconceituoso ou sou, mas eu não sabia ou não admiti.

Estudei com um garoto desde o jardim de infância, Júlio seu nome. Ele sempre foi diferente, o que me irritou. Não jogava futebol e preferia a companhia de garotas. Fiz algo ruim e não estou preparado para falar a respeito. Essa história é sobre minha morte, não sobre ele. É sobre o fim e não sobre o que levou a isso. 

Larguei-me na fofa areia. Praia deserta. Praia, esse é o nome? Não sei por quantas horas permaneci ali. Cenas vinham à mente. Vários garotos empurrando, maltratando e xingando. Júlio tornou-se a piada? O enfraquecido sol de um fim de tarde me acolhia, mas eu não o sentia mais. A vida sem cor e calor, a imensidão do vazio que jamais findaria.

Lembrei-me da masturbação, de como o fiz fazer, das revistas masculinas, da urina sobre sua cabeça. Risadas! Como um serial killer, as revistas tornaram-se lembranças de um ato ou divertimento para um domingo a noite.

As lágrimas surgiam quando ninguém estava por perto, nas escuras noites ou quando eu permitia. Ele não estava mais aqui e eu também não.

O Poço

Velas queimando. Lentidão a morte. Laminas aos pulsos. Melodiosamente como imaginou. A fumaça a envolver seu corpo, penetrar em suas narinas se tudo acontecesse como planejou. Quarenta ou cinquenta anos foi sua projeção, não já.

A família, amigos e colegas receberam a notícia. Só havia uma carta endereçada ao amor. Ao amor de muitos anos.

A violência que havia sofrido não importava. Júlio tornou-se piada? Contente motivava-se dia após dia, sem se importar com o que os outros pensavam. Admirável!

Paulo dirigia um grupo de piadistas, às vezes agressores. Doce destruidor o amor. Apenas foi-se embora sem olhar para trás. Partiu levando vidas.

Paulo tinha medo da dor física, encontrou o poço.


Júlio tinha medo da dor emocional. Morreu para livrar-se dela.    
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    Textos produzidos em Oficina Literária Como escrever um livro. Curso iniciado em agosto de 2014. O professor Marcelo Ariel em cada aula nos desafia com diferentes temas e formatos de textos (escritos de dez a quinze minutos em média) Proponho que em cada "lição", o leitor do blog imagine o que foi sugerido em aula. Quem será capaz de adivinhar? Em alguns textos há personagens do livro em andamento em meu computador. Em abril de 2015 iniciaram-se as reuniões do Grupo de Estudo criado em oficina. Textos produzidos para essas reuniões terão marcação de Grupo de Estudo.