Seus primeiros anos de vida foram
rabiscos. Círculos, traços e desenhos abstratos elaborados por Arthur. Ele
criou seus próprios heróis, inspirados em figuras de quadrinhos quando o tempo
passou. O lápis de cor Faber Castell foi seu melhor amigo, sempre a mochila
aonde quer que fosse.
Criança solitária, com amigos na escola,
fazia-os com facilidade, mas em suas tardes a imaginação e fantasias como
companhias.
Aos sete anos mudou-se para um
condomínio na região da Ponta da Praia, em Santos, com sua família. Conheceu
crianças e a liberdade cercada por altos muros em um belo jardim. Uma
tubulação, uma brincadeira, caça ao tesouro. Canos, ocultados anteriormente
pela grama, à mostra em um buraco. O verde ao avesso, misturado a terra
transformou-se em montanhas. A reforma permitiu que reluzentes pedrinhas
pudessem ser vistas pelos pequenos seres imaginativos. Em meio às partículas
marrons e pigmentos esverdeados, Arthur e seus colegas de vizinhança escalaram,
buscando no monte as mais belas pedras para guardar de presente. Por dias essa
foi a preferida brincadeira, como quem recolhe conchas na praia.
Em seu aniversário aos doze anos, Arthur
ganhou uma calça jeans. De tão confortável evitava tirá-la. Sua peça de roupa
preferida! Isso lhe custou muitas risadas e piadas das meninas e vizinhas do
condomínio, mas o menino nunca se permitiu inferiorizar por seus costumes.
Impressionante para um garoto em sua idade! Acrescentou um adereço ao
vestuário: uma corrente presa ao passador do jeans.
Aos quinze anos, sentiu-se atraído por
meninas. Em seu primeiro encontro com Sofia, o chuveiro entrou em chamas sobre
sua cabeça, por tomar banhos muito quentes. Por mais que sua mãe lhe chamasse a
atenção, ele nunca imaginou que pudesse acontecer. A história serviu para
descontrair o clima tenso antes do primeiro beijo. Muitas risadas.
Sofia, com complexo pela baixa estatura, adorava saltos. Quanto mais alto, melhor, mesmo com as dificuldades para
caminhar. Necessitava do carinhoso auxílio de Arthur para enfrentar as ruas
esburacadas e evitar tombos. Sozinha, um
dia foi ao chão quando o salto agulha da sandália branca quebrou. Arthur cuidou
de seu machucado, um ralado no joelho, com Merthiolate, com fórmula indolor. A
jovem foi presenteada, como mimo, com uma caixa de chocolates. Seu doce
preferido entre os bombons? Confete!
Arthur colecionou os bilhetes de Sofia,
guardados em uma caixa como tesouros. Adorava lê-los. Bobo sorriso apaixonado
cada vez que relia as cartas. Respondeu-os?
Em uma visita a tia, que sempre guardou
seus desenhos, ele percebeu que após trinta anos, os traços coloridos no
sulfite na infância tornaram-se textos digitados no computador. Arthur escrevia
sobre heróis em um blog, sob o formato de fanfic. Psicopatas, sentiu interesse
pelo assunto. Pesquisou através de livros para criar um personagem. O primeiro
livro de sua biblioteca no tema? Serial Killer louco ou cruel? Quem sabe não criar um personagem com
desenvolvida psicopatia e surpreender a todos os leitores no final?
Categories: Oficina2014
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