Suicídio
da alma, já ouviram falar? Não sei como é o outro lado. Queria morrer sem dor,
dormindo é o ideal.
A
alma deixa o corpo, é o que dizem. Mas e se continuássemos vagando quando ela
fizesse a transição? Não como mortos vivos, mas com um vazio no estômago não
denominado fome.
O
que é poder? É fácil perder o controle quando não estamos preparados para
administrá-lo. Administrar o poder. Perder o controle de uma situação e de si.
Quinze
anos, um jovem com intenso poder controlou o mundo. O seu mundo. O que é o
mundo para um garoto na adolescência?
Observei
a calmaria das águas, imitavam a sensação em meu peito. Com os ombros pesados e os braços largados,
refrescava-me até a altura dos joelhos. O rio São Francisco morria e eu não me
sentia presente. Fugi de uma situação e não percebi. Com a fuga... Férias em
Januária, Minas Gerais.
Playboy
da escola, aquele que todos querem ser. Temem. O rapaz que não parece amar nem
a mãe, que chama a atenção das meninas. Paulo, prazer.
Constrangimento?
Eu fui preconceituoso ou sou, mas eu não sabia ou não admiti.
Estudei
com um garoto desde o jardim de infância, Júlio seu nome. Ele sempre foi
diferente, o que me irritou. Não jogava futebol e preferia a companhia de
garotas. Fiz algo ruim e não estou preparado para falar a respeito. Essa história
é sobre minha morte, não sobre ele. É sobre o fim e não sobre o que levou a
isso.
Larguei-me
na fofa areia. Praia deserta. Praia, esse é o nome? Não sei por quantas horas
permaneci ali. Cenas vinham à mente. Vários garotos empurrando, maltratando e xingando.
Júlio tornou-se a piada? O enfraquecido sol de um fim de tarde me acolhia, mas
eu não o sentia mais. A vida sem cor e calor, a imensidão do vazio que jamais
findaria.
Lembrei-me
da masturbação, de como o fiz fazer, das revistas masculinas, da urina sobre
sua cabeça. Risadas! Como um serial killer, as revistas tornaram-se lembranças
de um ato ou divertimento para um domingo a noite.
As
lágrimas surgiam quando ninguém estava por perto, nas escuras noites ou quando
eu permitia. Ele não estava mais aqui e eu também não.
O Poço
Velas queimando. Lentidão a morte.
Laminas aos pulsos. Melodiosamente como imaginou. A fumaça a envolver seu
corpo, penetrar em suas narinas se tudo acontecesse como planejou. Quarenta ou cinquenta
anos foi sua projeção, não já.
A família, amigos e colegas receberam a
notícia. Só havia uma carta endereçada ao amor. Ao amor de muitos anos.
A violência que havia sofrido não
importava. Júlio tornou-se piada? Contente motivava-se dia após dia, sem se
importar com o que os outros pensavam. Admirável!
Paulo dirigia um grupo de piadistas, às
vezes agressores. Doce destruidor o amor. Apenas foi-se embora sem olhar para
trás. Partiu levando vidas.
Paulo tinha medo da dor física,
encontrou o poço.
Júlio tinha medo da dor emocional.
Morreu para livrar-se dela.