quinta-feira, 14 de maio de 2015

Vôo

Posted by Carolina Desirée On 18:35
Flor estrelada, branca e amarelada observa as crianças a brincar no playground. Correm pela grama sem notá-la assistindo-os. Flores desabrocham, são várias delas. Delicadas. A brisa sacode os ramos e elas balançam de um lado para o outro calmamente.

As crianças gritam ao falar, estão tomadas pelo prazer da diversão. Não desfrutam da natureza.

A flor um dia quer viajar. Carregada por tempestade imaginou-se. Fortes e gelados ventos como alavanca para o passeio. Grossos pingos de chuva cessariam sua sede e ela aguardaria escondida em arbustos pelo sol. Suaves ventos, ela levantaria vôo. Um vôo sem rumo, uma aventura.

Para onde vamos?  

O destino guiaria essa viagem.

A areia aquecida pelo sol. Sem pegadas. Pessoas há muito tempo não são vistas. Que delícia! Nada de bem me quer ou mal me quer, de narizes cheirando e de mãos sujas em suas pétalas. Ah! O deserto... Como ele seria?

Distante de casa enrolar-se-ia nos grãos das dunas para proteger-se. Esconder-se nelas.  

Nas fendas do solo ou embaixo de rochas água para banhar-se rapidamente. Economizaria para a fonte não secar. 

Como gostaria de conhecer o deserto... Quem sabe na próxima tempestade.


Fragilidade? Ah, que nada!  

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Silêncio

Posted by Carolina Desirée On 18:38
Coloridas nadadeiras agitam as águas. Deslizam pelo oceano diferentes espécies de todos os tamanhos. Ovas agarradas a plantas, filhotes, animais adultos e envelhecidos pelo tempo, dos ferozes aos calmos. Correntes oceânicas levam e trazem plânctons flutuantes no habitat. Dispersas, vítimas da cadeia alimentar. Algas marinhas balançam suavemente. Diversidade não conhecida pelo homem. E há os predadores. A poluição dispersa-se em sua imensidão.   

Ele enterra tesouros. Tesouros humanos. Esconde pertences pessoais. Brinca de esconde-esconde. Quem procura frustra-se. As ondas carregam para seu obscuro interior alianças perdidas e finais de relacionamentos. Guarda ouro e prata. Coleciona óculos, de sol ou de grau, não importa.  Não aceita brincadeiras, traiçoeiro o mar, se desafiado enterra-te com seus objetos.

Peixes palhaço, dourados, coloridos, camarões, polvos, tartarugas e águas-vivas. Não se esqueça do tubarão. Protegem as moedas de ouro do navio pirata naufragado. Um exército de diferenças que silenciosamente oculta seus segredos.   

terça-feira, 12 de maio de 2015

Aquarela.

Posted by Carolina Desirée On 18:27
Céu em abstrata pintura de aquarela, impreciso como humores.  Nuvens desfeitas, estendidas, sumindo discretamente imitando rastro de aviões. O sopro de Rá, quente, não movimentou as folhas das árvores. O círculo incandescente emanou seus raios. Entusiasmo. Vida. Ardor? Bloqueador solar, pálida pele. 
Os óculos de sol aviador caramelo admirados. Sob a superfície de um banco acinzentado, Isabel contemplou as folhas dançarinas, ásperas em secura, mas sorridentes guiadas por brisas em passeios. O corpo pequeno em repouso e suas sapatilhas creme com tachinhas douradas mirando o incentivo do beija-flor a divagar...
 ...Como uma sepultura à espera do defunto. Há um vácuo no estômago. O morto que não irá aconchegar-se no descanse em paz. O novelo de lã vulcânico na garganta. Se tenta explicar a si mesmo o bem e mau e a aura negra do anjo reluz. E há sadismo. Ele joga o ioiô. A inexpressão é a expressão. Aquarela em ebulição. Isabel ergueu-se para caminhar.
Os sonhos, seus sonhos, sintomas, não se recorda claramente, mas sabe seu significado. Não podem estar juntos. Malditos! 
Gostaria de poder dizer que é oco, pensou.   
As árvores transformam o ar. Alguém percebe? Seus galhos entrelaçados protegem os transeuntes no parque. Os pombos beliscam migalhas no chão. Dividem-nas ou brigam pela comida em seus bicos?   
Como as bicadas no âmago de quem coleciona os segredos, Kevin sente os pulmões cheios d’água das quedas. Narinas infladas pelo pó doem menos. Pelos cantos dos olhos, ele não permite arrepender-se. Nos ombros as carcaças do lobo e do cordeiro. E o ioiô no bolso. Vendado tateia o perdão. Por quê?         
Onde estão as preguiças? Ele fitou o alto a procura dos animais e agradeceu pela sombra que obscurecia o lugar. Os olhos estreitos. Sentou-se no banco da praça. Só Isabel para fazer isso com ele, não é mesmo? Exausto, mas persistente perseguidor.
Onde ela estará? Seu olhar buscou-a pelos arredores. Seu pé inquieto movimentou-se.
As pedras com compaixão observaram sua intranquilidade e ele encarou-as como quem questiona O que foi? Protegidas por grossas raízes de uma planta e grãos de terra ao redor descansavam, ele observou-as. A areia pareceu-lhe fofa para que uma pedra repousasse. Elas conheciam sua alma. Seguia pelas sombras seu caminho, ardia o coração nas trevas, mas trevas não é sua essência. Ele engana-se  como ela também.   
O celular vibrou: Ela está no parque. Fareje os morangos!
Ele sorriu com a piada de seu investigador particular.
Isabel tocou as pedras banhadas pelo riacho, pareciam-lhe agradecer pelo refresco das águas que por elas deslizavam no cálido dia.
Collant rosa e saia transpassar, meia calça e sapatilha. Jaqueta preta imitando couro. Batom vermelho e rede nos cabelos em coque. O sutil perfume de morango ainda no pescoço após a aula. Sua roupa preferida, moço. Mas nenhum deles nunca ouviu a intuição ou o que eu os dissesse. No automático mantiveram-se com suas blindagens rebeldes.
Isabel acomodou-se a uma pedra, ouvinte da sinfonia. O movimento do líquido no pequeno rio. A folha seca que dança na atmosfera e chega ao asfalto. O canto dos pássaros. O arrulhar dos pombos.
 Pombos?
Mas que inferno!  Ela lembrou-se de Kevin. O chute no ar na Praça Rooselvelt para tirar os ratos de asas de seu caminho. Quase sorriu, mas seu órgão vital congelado não permitiu. Ele apaixonou-se pelas duas carcaças de Izzy*, o que os mantinha unidos, mas as suas precisavam cair, o que os separou.    

*Como Kevin chama Isabel. 

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Oito anos. (Duas versões)

Posted by Carolina Desirée On 15:35
Oito anos. Arco-íris e cores em uma folha em branca. Passatempo de criança. Quer ser desenhista quando crescer. Nunca pensou em desenhar nas paredes, mas com a ponta do compasso ou estilete decorou aparelhos eletrônicos e móveis. Televisão, cama... Que susto quando a mãe descobriu! Inocência ou demarcação de território desde cedo?

Maneira de agredir? Ser outra pessoa ou si mesmo? O quarto seu mundo. Da décima janela observou grossos pingos de chuva. Passeando o olhar por apartamentos vizinhos visualizou um rapaz estudando. O abajur ao lado com lâmpada fluorescente iluminando a mesa.

Por que não existem vizinhos bonitos como os amigos imaginários que desejamos de verdade?

Aos oito anos já se julga pela aparência. A menina trancou sua boneca no armário para que ela não a visitasse de noite com unhas crescidas e vida. Quem dá uma Xuxa a uma criança imagina que ela brincará alegremente? Isso é sádico! Nunca ouviram as lendas?

Por ser pequena a Xuxa não poderia empurrar a porta do móvel com pulsos tão fininhos, pensou.

Sem a chuva, ela experimentou o calor em um jardim cercado que limitou a liberdade, mas ela não sabia disso.  As cercas proporcionaram amizades. E grades de uma quadra, escorregador, balanço e gira-gira transformaram-se em um parque de diversões para bonecas.

Mas se humanos se machucam o que acontece a Susi quando a segurança falha? Ela despenca das alturas. Uma perna quebrada. Papel higiênico, sabonete líquido e água. Minutos depois assino seu gesso. Um corpo imobilizado, mas no mundo físico nem tudo para tudo há conserto.

A memória impregna nas coisas. E eu tenho oito anos com a mão esquerda.  


II

- Por que desenhou na televisão com estilete?

Por que fiz isso? Eu não sei!

- Eu queria marcar...

Ainda bem que ela não viu a cama.

Demarcação de território? Tão cedo? Tenho uma futura pichadora em casa?

Da décima janela assistiu a chuva. Grossos pingos, apartamentos vizinhos. Quem nunca observou? O rapaz estuda à mesa. O abajur fluorescente ilumina ao lado.

Existem vizinhos bonitos como os amigos que inventei? Por que eles não existem?

- Por que a boneca estava no lixo, Isabel? Sabe quanto custa?!

Não...

- Não quero ela. Ela arranha! Ela veio atrás de mim de noite. Tenho medo. Joga fora!

Havia lendas no meu tempo. É sádico presentear com uma Xuxa.

- Vou prendê-la no armário, tá bom? Ela é fraquinha. Não vai conseguir empurrar a porta.

Verdade, ela tem pulsos pequenininhos.

- Huhu – concordou a criança. – Se ela cair de cima do armário, terei que engessar ela igual eu fiz com a Susi. Você lembra, mãe?  

- Lembro minha médica. Como fez o gesso?

- Papel higiênico, sabonete e água. Quando secou eu assinei meu nome. 

A memória impregna nas coisas. E eu tenho oito anos com a mão esquerda.  

domingo, 10 de maio de 2015

Milla!

Posted by Carolina Desirée On 16:49
Choveu.  Protegida pelo enorme guarda-chuva xadrez não se encharcou. Rápidos passos. Ela caminhou a procura de feições conhecidas. Olhou para um lado e outro. Perguntas acumulando-se em sua garganta, na mente imagens simulando a conversa que estaria por vir. 

Como foram as férias? O que contar aos amigos? E os livros dos amigos como estariam?

As mechas do cabelo loiro acobreado ricochetearam com seu ansioso movimentar. Não havia ninguém no local. Como assim não?

Ela acomodou-se ao banco no aguardo. Expectativa! Baixou os olhos, relaxou o corpo recuperando-se da correria.

- E o livro? Por que não me mandou o final? – imaginou-se indagando. Que resposta engasgada viria?   

- Ainda não escrevi. Falta muito para o final! Um milhão de folhas! – ela ouviu uma doce e infantil voz desconcertada em sua mente.

A calça azul royal em harmonia com os óculos arroxeados. A camiseta preta confortavelmente convidativa ao corpo. Como seria dormir com uma dessa? Os pés sequinhos! Que inveja! E eu com eles na água, observou a colega de cabelos vermelhos a entrada da porta de vidro da Estação Cidadania.

Camiseta aconchegante.

- Isabel, como está seu livro? Pensou a menina. Eu quero ler! Eu vou ao seu lançamento, mas eu quero ler antes. Isabel fitou a amiga de cabeça baixa quase adormecendo de tédio no banco, aguardando seus questionamentos sobre a história. Viu Milla erguer os olhos e iluminar-se.


- Camiseta legal, Milla!
Aspereza aos pés. Pedrinhas! Que vontade de pular. O céu roxo sem estrelas. Quantas vezes olhou para a imensidão?

Liberdade! A estrutura de uma cabana sem lona lembra-me o circo, sem animais.

Palhaços libertos em arriscados movimentos pelos ares. O campo florido como platéia. Retorna a vontade de pulos dar. Contagiantes palhaçadas? Mas isso fica apenas na imaginação. Circo ao ar livre e sorrisos.

E então ouço água em pedras. A brisa. E muda-se o ambiente.

O som das águas como cascata, toque suave aos ouvidos. Lugar para meditação, rodeado por intensas energias da natureza. Grama, arbustos floridos e árvores. Flores rosa, vermelha e amarela. Água morna, noite fresca. Lago obscurecido pela noite, águas límpidas. Paraíso escondido, longe das destrutivas mãos humanas.

Pik, pik, pik. Como se pudesse ouvir a leveza de seus passinhos a terra: um esquilo pulador. Esperem! Um rato! Rato? De tão sutil os pulos atribui beleza a um selvagem roedor da cidade.  Ele sumiu em meio às folhagens.

O verde acalma e induz ao sono. Vamos descansar.

Um estalo. Pessoas ao redor parados em uma única direção observando distraidamente. Que grande poder tenho eu, o poder de me ausentar da realidade. 

O tigre e a criança

Posted by Carolina Desirée On 16:43
No zoológico, férias. Assistir a vida e o comportamento de seus animais preferidos. A criança ama os animais, todos eles sem distinção. Sua vontade? Pegá-los no colo e acariciar um a um.

- Tigres não são animais de estimação. Ele come quilos de carne e é selvagem – explicou a mãe.

Eles não são gatinhos então? Nunca entendi.  Pensei que carinho, educação e muita carne bastavam para adotar um filhote. Um bebê pode ser domesticado, não?

Inocentemente uma criança alimenta um tigre através da grade, mas migalhas não são interessantes, são?

Pessoas. Irritam! As risadas e os gritinhos. Nunca viram um tigre, petulantes? Rugido. Jaula. Um braço... Braço.

Como uma cadeia alimentar, lei do mais forte. O tigre aguardou um momento de distração. A inocência de uma criança, um bote e um braço. 

- Que delícia. Comida! – Rugiu.

Na jaula, um braço como uma coxa de frango para um belo animal selvagem.

Pânico! O menino gritou no susto. Onde está o braço que não se sente mais? O sangue escorreu, manchou a camiseta e então veio a dor quando seus olhos repousaram sobre o ferimento.

Choro!

O que fiz de errado? Ele não foi educado pelos donos do zoológico? Não era alimentado o suficiente? As pessoas vieram ao meu encontro, mas o braço já estava em meio aos dentes do animal. Não gosto mais de tigres?


- Por que os médicos não podem me consertar, mamãe?   

Como me matei?

Posted by Carolina Desirée On 16:39
Suicídio da alma, já ouviram falar? Não sei como é o outro lado. Queria morrer sem dor, dormindo é o ideal.

A alma deixa o corpo, é o que dizem. Mas e se continuássemos vagando quando ela fizesse a transição? Não como mortos vivos, mas com um vazio no estômago não denominado fome.

O que é poder? É fácil perder o controle quando não estamos preparados para administrá-lo. Administrar o poder. Perder o controle de uma situação e de si.

Quinze anos, um jovem com intenso poder controlou o mundo. O seu mundo. O que é o mundo para um garoto na adolescência?

Observei a calmaria das águas, imitavam a sensação em meu peito.  Com os ombros pesados e os braços largados, refrescava-me até a altura dos joelhos. O rio São Francisco morria e eu não me sentia presente. Fugi de uma situação e não percebi. Com a fuga... Férias em Januária, Minas Gerais.

Playboy da escola, aquele que todos querem ser. Temem. O rapaz que não parece amar nem a mãe, que chama a atenção das meninas. Paulo, prazer.

Constrangimento? Eu fui preconceituoso ou sou, mas eu não sabia ou não admiti.

Estudei com um garoto desde o jardim de infância, Júlio seu nome. Ele sempre foi diferente, o que me irritou. Não jogava futebol e preferia a companhia de garotas. Fiz algo ruim e não estou preparado para falar a respeito. Essa história é sobre minha morte, não sobre ele. É sobre o fim e não sobre o que levou a isso. 

Larguei-me na fofa areia. Praia deserta. Praia, esse é o nome? Não sei por quantas horas permaneci ali. Cenas vinham à mente. Vários garotos empurrando, maltratando e xingando. Júlio tornou-se a piada? O enfraquecido sol de um fim de tarde me acolhia, mas eu não o sentia mais. A vida sem cor e calor, a imensidão do vazio que jamais findaria.

Lembrei-me da masturbação, de como o fiz fazer, das revistas masculinas, da urina sobre sua cabeça. Risadas! Como um serial killer, as revistas tornaram-se lembranças de um ato ou divertimento para um domingo a noite.

As lágrimas surgiam quando ninguém estava por perto, nas escuras noites ou quando eu permitia. Ele não estava mais aqui e eu também não.

O Poço

Velas queimando. Lentidão a morte. Laminas aos pulsos. Melodiosamente como imaginou. A fumaça a envolver seu corpo, penetrar em suas narinas se tudo acontecesse como planejou. Quarenta ou cinquenta anos foi sua projeção, não já.

A família, amigos e colegas receberam a notícia. Só havia uma carta endereçada ao amor. Ao amor de muitos anos.

A violência que havia sofrido não importava. Júlio tornou-se piada? Contente motivava-se dia após dia, sem se importar com o que os outros pensavam. Admirável!

Paulo dirigia um grupo de piadistas, às vezes agressores. Doce destruidor o amor. Apenas foi-se embora sem olhar para trás. Partiu levando vidas.

Paulo tinha medo da dor física, encontrou o poço.


Júlio tinha medo da dor emocional. Morreu para livrar-se dela.    

Os Objetos

Posted by Carolina Desirée On 16:25
Seus primeiros anos de vida foram rabiscos. Círculos, traços e desenhos abstratos elaborados por Arthur. Ele criou seus próprios heróis, inspirados em figuras de quadrinhos quando o tempo passou. O lápis de cor Faber Castell foi seu melhor amigo, sempre a mochila aonde quer que fosse.

Criança solitária, com amigos na escola, fazia-os com facilidade, mas em suas tardes a imaginação e fantasias como companhias.

Aos sete anos mudou-se para um condomínio na região da Ponta da Praia, em Santos, com sua família. Conheceu crianças e a liberdade cercada por altos muros em um belo jardim. Uma tubulação, uma brincadeira, caça ao tesouro. Canos, ocultados anteriormente pela grama, à mostra em um buraco. O verde ao avesso, misturado a terra transformou-se em montanhas. A reforma permitiu que reluzentes pedrinhas pudessem ser vistas pelos pequenos seres imaginativos. Em meio às partículas marrons e pigmentos esverdeados, Arthur e seus colegas de vizinhança escalaram, buscando no monte as mais belas pedras para guardar de presente. Por dias essa foi a preferida brincadeira, como quem recolhe conchas na praia.

Em seu aniversário aos doze anos, Arthur ganhou uma calça jeans. De tão confortável evitava tirá-la. Sua peça de roupa preferida! Isso lhe custou muitas risadas e piadas das meninas e vizinhas do condomínio, mas o menino nunca se permitiu inferiorizar por seus costumes. Impressionante para um garoto em sua idade! Acrescentou um adereço ao vestuário: uma corrente presa ao passador do jeans.

Aos quinze anos, sentiu-se atraído por meninas. Em seu primeiro encontro com Sofia, o chuveiro entrou em chamas sobre sua cabeça, por tomar banhos muito quentes. Por mais que sua mãe lhe chamasse a atenção, ele nunca imaginou que pudesse acontecer. A história serviu para descontrair o clima tenso antes do primeiro beijo. Muitas risadas.

Sofia, com complexo pela baixa estatura, adorava saltos. Quanto mais alto, melhor, mesmo com as dificuldades para caminhar. Necessitava do carinhoso auxílio de Arthur para enfrentar as ruas esburacadas e evitar tombos.  Sozinha, um dia foi ao chão quando o salto agulha da sandália branca quebrou. Arthur cuidou de seu machucado, um ralado no joelho, com Merthiolate, com fórmula indolor. A jovem foi presenteada, como mimo, com uma caixa de chocolates. Seu doce preferido entre os bombons? Confete!

Arthur colecionou os bilhetes de Sofia, guardados em uma caixa como tesouros. Adorava lê-los. Bobo sorriso apaixonado cada vez que relia as cartas. Respondeu-os?


Em uma visita a tia, que sempre guardou seus desenhos, ele percebeu que após trinta anos, os traços coloridos no sulfite na infância tornaram-se textos digitados no computador. Arthur escrevia sobre heróis em um blog, sob o formato de fanfic. Psicopatas, sentiu interesse pelo assunto. Pesquisou através de livros para criar um personagem. O primeiro livro de sua biblioteca no tema? Serial Killer louco ou cruel? Quem sabe não criar um personagem com desenvolvida psicopatia e surpreender a todos os leitores no final?    

Cena do Dia

Posted by Carolina Desirée On 16:18
Pratos em louça branca, talheres Hercules, copos de cristal e tigelas para o sorvete sobre a pia em mármore cinza, lembrança do almoço do dia anterior. A cozinha silenciosa ao amanhecer. A claridade entrando pelas vidraças em um dia nublado.

O que sua mãe diria ao observar a dona de casa de calcinha e camiseta a pia da cozinha? Não me perturbe. Psicopata em tratamento escrito ao pano em volta de seu abdômen.  A religiosa família a perdoaria?

Sabão e espuma a louça suja. Um a um ela limpou, desfazendo a pilha de pratos. Água para enxaguar e panos para secas. Durante o ato, pensativa. A moça agradeceu pela simples atividade do dia.


O prazeroso almoço do dia anterior lhe veio à memória. Arroz, bife, legumes e mandioca frita. Comida simples, com os amigos estudantes. Comer no sofá, a mesa ou até mesmo no chão, espalhados pela sala. 

- A filosofia clínica estuda o comportamento de uma pessoa, suas atitudes, levando sua história de vida como base – contou um deles.

Por que não unir psicologia e filosofia clínica e aplicar o conhecimento mesclado em consultas? Que bela fusão!  Pensou a dona de casa ainda a pia. Ela agradeceu a visita e a inspiração por qual seria sua especialização.

Copos de volta a cristaleira, pratos empilhados no armário, tigelas também e talheres na gaveta. Tudo organizado! Pia seca com papel toalha.

Agora, vamos ao quarto.

O Calculista

Posted by Carolina Desirée On 16:12
Paredes opacas, onde um homem premedita seus atos. Frieza. Gélidos olhos, que não enxergam nada além de si.

Números, gráficos, dados e informações compõem o trabalho do rapaz de aproximadamente quarenta anos. Ágil, não larga a caneta em meio a anotações, mergulhado em conhecimentos adquiridos na graduação.

Através do vidro a sua porta, em seu escritório, ele é assistido. A vazia expressão não transparece tensão, mas as profundas linhas cravadas a testa o denunciam como um explosivo. Cuidado! 

Exala indiferença e preocupação e nem sabe disso. Entretido nas rotinas do dia-a-dia não percebe o mundo ao seu redor, o que lhe foi proposto.  

Quem sou eu?

Posted by Carolina Desirée On 16:06
A pessoa sabe quem é ou passa a vida querendo ser? Minhas atitudes? Às vezes oito às vezes oitenta. Extremos? Jamais meio termo? E o equilíbrio? Em constante mutação escrevi uma vez. Já fui patinha feia, patricinha e rebelde. Hoje tento me firmar em ser. Ser o que? Sou um espelho quebrado. Características fragmentadas de um vidro metalizado. Características que agem individualmente impondo-se uma a outra. Conflito! Onde está o trabalho em equipe, álteres?    

Beleza em palavras. Insano o mundo? Literariamente transformado. A varinha movimenta-se iluminando o caos em letras que mostram as dificuldades, isso é a escrita. Consegue imaginar o que lê? A arte da literatura poetiza. Leveza aos problemas. Quando realidade, cruel, sem a mágica de um rabiscar de caneta.  

O combustível da escrita? O esboçar de um sorriso, risadas. Divertimento aos leitores. Esperança, distração e ensinamentos componentes de um livro. O escritor expõe o mundo a sua maneira. Choca! O leitor precisa pensar também.

Escrevo para refugiar-me. Transformo você. Agora reflita! 
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    Textos produzidos em Oficina Literária Como escrever um livro. Curso iniciado em agosto de 2014. O professor Marcelo Ariel em cada aula nos desafia com diferentes temas e formatos de textos (escritos de dez a quinze minutos em média) Proponho que em cada "lição", o leitor do blog imagine o que foi sugerido em aula. Quem será capaz de adivinhar? Em alguns textos há personagens do livro em andamento em meu computador. Em abril de 2015 iniciaram-se as reuniões do Grupo de Estudo criado em oficina. Textos produzidos para essas reuniões terão marcação de Grupo de Estudo.